Momentos que contam – Jorge

Mais do que um blog, um exemplo para mim de como criar bons conteúdos em redor do vinho, gastronomia e enoturismo. Há momentos que contam e “Não há razão para não olharmos sempre para o lado positivo da vida”. O que será que tem mais para nos dizer o Jorge Filipe Nunes do blog Joli – Wine & Food Activist 


No dia que um blog deixar de ter sentido crítico algo está errado…

Jorge Filipe Nunes

Tive a oportunidade de ler o teu primeiro post que retrata uma viagem a Barcelona. Volvidos 13 anos eras capaz de reescrever essa história com as mesmas personagens? O que achas que seria diferente?

Ui, foste bem ao fundo do baú. Decididamente noutro registo, mas era perfeitamente capaz de reescrever essa história com as mesmas personagens. Na altura o Jojojoli (actual Joli) era acima de tudo um blogue pessoal, quase um diário, onde escrevia sobre a generalidade dos meus gostos pessoais, desde o futebol, passando pelo cinema, musica, viagens, etc… Mais tarde, com a paixão pelos vinhos a crescer, as publicações seguiram naturalmente nesse sentido. Na altura até equacionei criar um novo blog só para o tema dos vinhos, mas como já tinha algumas publicações que se inseriam bem nesse contexto deixei ficar. O mais curioso é que depois de tantas atualizações, importações e alguma nabice minha, muitas dessas publicações mais antigas acabaram por perder-se. 

O Joli divide-se por Vinho, Gastronomia, Restaurantes, Destinos e Dormir, de todas as áreas qual é aquela que te dá mais gozo escrever?

Olha, tem fases. O vinho é definitivamente o tema principal e dá-me muito prazer partilhar um vinho que bebi e gostei, mas neste momento um tema que me tem dado especial gozo escrever tem sido sobre os destinos das viagens que faço, que acabam sempre, de alguma forma por estar ligadas ao vinho. É muito gratificante teres o retorno de pessoas que foram aqueles destinos e que seguiram algumas das tuas sugestões. Infelizmente são publicações que demoram muito tempo a fazer, com muitas fotografias e alguma pesquisa, que exigem bastante disponibilidade de tempo, algo que vou tendo cada vez menos. Costumo dizer, meio a brincar, que quando me reformar vou recuperar todos esses rascunhos de viagens e publicá-los. 

No que toca ao vinho lembras-te qual foi a primeira garrafa de vinho que compraste? Onde e com que propósito?

Não consigo precisar se foi a primeira, mas uma das primeiras garrafas que tenho memória de ter comprado já neste contexto de apreciador de vinhos foi um Quinta do Cardo Tinto, lá na própria quinta, durante uma viagem que fiz pelo Douro Superior e Castelo Rodrigo.   

Estiveste presente na primeira edição do Adegga Wine Market, realizada em 2009 no Teatro Aberto, ainda te recordas dos vinhos que gostaste mais? Sentes que o teu palato hoje está mais refinado?

Lembro-me perfeitamente. Gostei especialmente dos Cortes de Cima, dos Vale d’Algares, um projeto que estava a dar os primeiros passos com vinhos que nada têm a ver com a marca que hoje existe e, de uns vinhos do Tejo que deixei de ver por aí, os Falcoaria. Não sei se está mais refinado, mas admito que hoje procuro coisas diferentes de há uns anos atrás. Penso que é o percurso natural de quem se interessa por um tema, seja vinhos, livros, música, cinema, ou outra coisa qualquer. 

Ora são provas verticais, ora são jantaradas, como enófilo qual foi aquela que mais te marcou ou ensinou?

Ensinar todas ensinam, mesmo na prova de um vinho mais básico consigo retirar ensinamentos, mas não consigo mencionar apenas uma. Tenho tido a felicidade de ter amigos que me têm proporcionado momentos verdadeiramente memoráveis, tanto em provas, como em visitas a produtores, assim como em momentos à mesa onde o vinho é o protagonista. Nesse aspecto admito que tenho sido um sortudo. 

As promoções são um tema constante de discussão entre a comunidade vínica, podemos saber qual foi o último vinho que compraste em promoção num hipermercado?

É uma discussão pertinente, pois existem algumas promoções nos hipermercados que são um verdadeiro atentado à inteligência das pessoas. No entanto, quem está mais ou menos por dentro dos preços, acaba por encontrar algumas boas oportunidades. O último que comprei foi um Regueiro Primitivo, que é um excelente branco da região do Vinho Verde, que me custou cerca de 11€. 

Algumas das últimas viagens realizadas foram para outras regiões vitivinícolas fora de Portugal, quando regressas sentes que temos condições para fazer mais e melhor quando falamos em enoturismo?

Definitivamente que sim, temos condições para fazer mais e melhor. 

Ainda assim hoje em dia as coisas estão muito diferentes, para melhor, o crescimento do turismo no nosso país veio contribuir sobremaneira para o aumento de investimento no enoturismo e já encontramos estruturas com muita qualidade. Mas penso que ainda há muito a fazer comparativamente com o que encontramos em algumas regiões lá fora, nomeadamente na vertente das dormidas e na promoção das regiões como um destino de enoturismo. É comum encontrar, em algumas regiões que tenho visitado, locais onde é possível provar e conhecer uma grande fatia dos produtores daquela região e isso é uma coisa que acho que falta em Portugal, vendermos a região como um todo. Deixo um exemplo: O ano passado, durante a viagem que fiz ao Mosel, na bonita cidade de Bernkastel-Kues, no Mosel Central, estive numa cave/garrafeira chamada Vinothek, onde pelo preço de 15€ se tem acesso a mais de 100 vinhos de 100 produtores diferentes para provar. Todos climatizados, devidamente numerados e com uma pequena descrição sobre o produtor e respetivo vinho. Naquele momento, sem sair do mesmo lugar, conseguimos ter uma noção dos perfis e dos vinhos que a região está a produzir e no final, se assim o desejarmos, podem comprar-se e trazer para casa. É um cartão de visita extraordinário para a região e saímos dali com vontade de ir conhecer as quintas. 

Penso que podíamos investir mais neste aspeto. Imaginemos a loja da Rota da Bairrada mas com uma oferta deste género, seria porreiro, não? 

Não há razão para não olharmos sempre para o lado positivo da vida”. O que é para ti um bom momento que mereça ser partilhado?

É uma máxima que tento seguir, mesmo das piores experiências conseguir retirar aspectos positivos. Partilhar uma mesa com família ou amigos é sempre um momento de grande felicidade e que merece ser partilhado. As vitórias do Benfica também.  

Hoje os momentos são fogazes, partilha-se uma fotografia e já está, achas que ainda há espaço para o conteúdo, nomeadamente, para o Joli Wine & Food Activist?

Penso que sim. E enquanto me der prazer criar esses conteúdos, ainda mais. 

A expressão “uma imagem vale mais que mil palavras” já vem da antiguidade, por isso já nesse tempo, sem as ferramentas de hoje, havia a noção do poder da imagem. Penso que haverá sempre lugar para o conteúdo, agora é fundamental adaptarmo-nos aos tempos que vivemos. Os conteúdos de hoje não poderão ser os mesmos de há dez anos atrás, tem de haver uma evolução que vá ao encontro do que as pessoas procuram atualmente, mas sem nunca se perder o sentido crítico. No dia que um blog deixar de ter sentido crítico algo está errado, pois se for só para dar notícias ou fazer publicidade há outros canais que o fazem melhor. 

Por último, uma prova vertical na Quinta da Bica ou um Benfica-Porto, qual seria a tua primeira escolha?

Ah malandro, agora apanhaste-me. Um Benfica-Porto no estádio é sempre um momento especial, por vezes inesquecível. Juntar a isso uma prova de Quinta da Bica seria conseguir o melhor de dois mundos. Uma vertical no restaurante do Estádio da Luz, com vista para o jogo, tinha tudo para ser épico.


Mais uma vez agradecer a disponibilidade e o interesse do Jorge na resposta às questões enviadas, visitem o Joli – Wine & Food Activist.

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