
O texto que se segue é apenas, e por si só, uma forma de agradecimento a quem me tem acompanhado ao longo dos últimos dez anos nesta minha insistência pelo mundo dos vinhos com o Rolhas e Retratos. Uma perspetiva romântica que me faz acreditar que é possível fazer sempre mais pelos vinhos que gostamos independentemente da sua origem.
Cresci a ouvir falar do meu bisavô Patrício e da sua pequena taberna, situada em Vale de Nogueira, Caneças. Cresci a ver o meu avô Quirino sempre em busca do tasco com o melhor copo de três da zona, cresci a ver sempre o copo de branco “fresquinho” do meu pai à mesa de jantar e cresci sempre a guardar as garrafas vazias debaixo da mesa nos almoços de família para evitar falsos julgamentos com o meu Tio Pereira. A verdade é que ligações ao gosto pelo vinho não me faltam e foi a pensar nestas que decidi ainda durante a faculdade apresentar um trabalho para a disciplina de design com a Herdade do Esporão, era um tríptico para promover a sua gama Private Selection e eles foram extremamente atenciosos. Desde esse momento que a curiosidade por este mundo tomou outras proporções e numa primeira passagem de ano em Milfontes fui um maluco e comprei a minha primeira garrafa de vinho, um Quinta da Mimosa da Ermelinda Freitas, acho que nunca mais me esqueci do sabor a madeira.
Ao longo do tempo o gosto por descobrir os nossos vinhos aumentara substancialmente e foi aí que aproveitei o facto de trabalhar em comunicação para criar o Rolhas e Retratos, um projeto que na sua raiz ambicionava ser de partilha de momentos, histórias e experiências em redor do vinho. Muita coisa mudou desde essa altura sobretudo com a proliferação das plataformas sociais que criaram uma pressão exagerada de ver e ser visto, um autêntico comboio de alta velocidade difícil de acompanhar.
A verdade é que passaram dez anos e, tal como no início, continuo a acreditar no Rolhas e Retratos, mas tenho a perfeita noção que para qualquer projeto vingar, temos de ser consistentes, regulares e acima de tudo temos de ter tempo para pensar, algo que tem faltado, e muito, ultimamente. Ainda assim, e mesmo que desistisse agora, só posso sentir-me agradecido por tudo aquilo que aprendi, que vivi e por todas as pessoas que tive a sorte de conhecer neste mundo, e são algumas acreditem!
…Para mim existem sim diferentes carteiras e por isso o melhor mesmo é continuarem a ser fiéis aos vossos gostos e não aos gostos dos demais.
Gentes que, de uma forma ou outra, passaram a fazer parte deste percurso e que acompanho com regularidade para continuar a saber mais sobre esta industria tão vasta. Como tal, as seguintes palavras são de agradecimento, porque também sei que na correria que são as nossas vidas, muitas vezes não nos apercebemos do impacto que as nossas palavras e as nossas partilhas têm em nos “segue”. Em primeiro lugar à família e amigos mais próximos que sempre me apoiaram nesta crença e “sonho” de um dia trabalhar naquilo que ambiciono, sei que vou lá chegar um dia.
Depois ao conjunto de pessoas que tive a sorte de conhecer e que sigo com regularidade, começo pelo Jorge Nunes (Joli) que tem sido um autêntico barómetro daquilo que gostava que fosse o Rolhas, ao Rui (Pingus) que foi sempre alguém que segui atentamente dado o perfil das suas escolhas e talvez por ser um defensor do Dão, à Helena (Wines9297) que tem oferecido provas e histórias únicas no seu espaço e no qual tenho aprendido bastante, ao Nélson (Tàscuela) que foi sempre um companheiro e muitas vezes um confidente nesta viagem, ao Nuno e à Ema que tirando a inveja das fotografias do leitão assado sempre acompanhei as suas escolhas bairradinas (nunca me vou esquecer daquele jantar memorável), ao Hugo Mendes que para mim é um modelo de comunicação excecional e um exemplo da proximidade que os vinhos exigem, ao Luís (Enóphilo) com quem tive o privilégio de aprender mais sobre espumantes e sobre organização de eventos vínicos, à Joana que me mostrou o que é isto de comunicação no setor vitivinícola, ao grande José Moroso que para mim foi dos melhores parceiros de mesa de prova que alguma vez consegui ter e ao Bruno (Vinho no Bigode) que acompanho com muito apreço a sua criatividade, a todos vocês muito obrigado.
Honestamente não sei o que será o Rolhas e Retratos daqui por mais dez anos, sei e isso com toda a certeza que sempre quis estar rodeado de pessoas à mesa e oferecer a melhor experiência possível, são esses os momentos que perduram, são essas as experiências que marcam uma amizade, um grupo ou um conceito. Sei também que para perceber o que por cá se faz tenho de ter “mundo” e aí está uma lacuna que quero resolver passo a passo, tenho tanto por provar ainda.
Os últimos dez anos serviram essencialmente para me conhecer entre duas dimensões, a primeira enquanto consumidor de vinho, onde descobri os meus gostos pessoais e o perfil de vinho que aprecio e a segunda enquanto profissional de comunicação onde tenho conseguido acompanhar e estudar o mercado, e uma coisa é certa, os vinhos não são todos a última bolacha do pacote como as redes sociais fazem querer parecer, mas também já não existem maus vinhos, para mim existem sim diferentes carteiras e por isso o melhor mesmo é continuarem a ser fiéis aos vossos gostos e não aos gostos dos demais.
Muito obrigado a todos do fundo do coração.