
As palavras que se seguem pecam por tardias, mas quando se trata de algo que permanece na nossa memória nunca é demasiado tarde. Hoje quero falar-vos de uma geração, de gentes que respiram a essência do território que defendem com unhas e dentes, de jovens que decidiram dar continuidade ao legado deixado, hoje quero falar-vos da Gerações de Xisto.
Para falar-vos desta geração que tive a oportunidade de conhecer no último dia do 7º Festival do Vinho do Douro Superior, realizado em Vila Nova de Foz Côa no final do mês de maio, há que subir encosta acima, entre curvas e contracurvas, até um dos pontos mais altos desta sub-região. Foi ali com uma paisagem exuberante que os transmontanos Frederico Lobão e Paulo Grandão, responsáveis pelo projeto, tiveram a oportunidade de falar sobre a singularidade do território que nos servia de cenário e de apresentar a Gerações de Xisto, projeto que nasceu da junção de duas casas agrícolas, a Chousas Nostras dedicada ao azeite, e da Vales Dona Amélia direcionada para a produção vitivinícola.
Dois jovens de uma geração que decidiu ficar e lutar pela excelência do que aqui é produzido, e que tivemos o privilégio de comprovar no piquenique proporcionado pela Gerações de Xisto. O local escolhido é difícil de descrever pois só quem lá esteve percebe a dimensão da paz que se respira por aqueles socalcos carregados de história. A prova do azeite Chousas Nostras marcou o início de um belo convívio, mesmo sendo um leigo na matéria, posso afirmar que é uma verdadeira experiência sensorial provar azeite a copo, intensidade e complexidade aromática difíceis de decifrar, mas de uma riqueza extrema.
Vamos aos vinhos, desta vez, na companhia de Rui Carrelo, enólogo desta geração, a quem coube apresentar o Gerações de Xisto branco 2017, uma primeira experiência no que toca a brancos e uma verdadeira surpresa na minha opinião. Um vinho que tem por base as castas Rabo de Ovelha (90%) e Arinto (10%) e que espelha na perfeição a acidez que esta sub-região consegue conferir aos vinhos aqui produzidos. Voltarei a ele mais tarde para saborear a sua evolução. No que toca ao vinho tinto, o Vales Dona Amélia 2014 ainda precisa de tempo em garrafa para amansar os seus potentes taninos, mas o colheita 2012 decantado horas antes do almoço, estava soberbo.
Entre conversas, estórias e curiosidades, começaram a ecoar sonoridades entre os socalcos centenários num momento de pura magia que culminou com poesia dedicada às gentes do vinho. Uma verdadeira experiência onde ficaram bem vincadas as memórias e as tradições vividas por esta geração que tem nos solos xistosos o seu grande desafio.
Ao Paulo, ao Fred e ao Rui desejo os maiores sucessos e que para o ano nos possamos encontrar novamente.